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Operadora de Fábrica por um dia:

Conheça os desafios do trabalho em uma linha de montagem de carros.

Operadora de Fábrica por um dia: Conheça os desafios do trabalho em uma linha de montagem de carros.
Ação da Nissan para comemorar Dia Internacional da Mulher levou convidadas a colocar a mão na massa e ajudar na produção de um Kicks
Nissan Dia da Mulher (Foto: Divulgação)Laizi me mostra as operações feitas no Kicks. (foto:divulgação).
Aplicar, apertar, fixar, aparafusar, colar, checar... muitos verbos definem a rotina de um operador de uma fábrica de automóveis. São diversos processos realizados em cada posto de trabalho para que o carro saia da linha de produção sem defeitos.
Como parte das comemorações do Dia Internacional da Mulher neste 8 de março, a Nissan me convidou para participar de uma ação em sua fábrica em Resende (RJ) e ajudar na montagem de um modelo - o Kicks, no caso, mas no local ainda são produzidos March e Versa.
Em quase 17 anos de setor automotivo, já conheci diversas fábricas no Brasil e no mundo, mas foi a primeira vez que tive a oportunidade de colocar a mão na massa. E o desafio não foi nada fácil. Em primeiro lugar, foi preciso passar por um treinamento teórico, com foco principalmente na segurança, e depois uma parte prática para aprender a lidar com apertadeiras e colocar o torque certo em cada parafuso. Mas a formação de um funcionário real dura 21 dias.
No dia seguinte, hora de partir para a ação. Confesso que o tempo na linha de montagem foi curto; não dava para diminuir o ritmo da produção para que pegássemos as manhas da função ou atrapalhar as meninas que foram nossas "professoras".
Nissan Dia da Mulher (Foto: Divulgação)Fixagem das porcas do rack são feitas por dentro da carroceria. (foto: divulgação).A sequência parece insana pra quem olha de fora: prepara material para o operador do posto à frente, aplica o primer onde vai a cola do para-brisa, cola os tampões de vedação de água e ruído na carroceria, encaixa a presilha do rack, aperta os parafusos com a apertadeira pneumática, encaixa o rack de teto, fixa as porcas por baixo, coloca as pecinhas de vedação das lanternas e finaliza aplicando o primer para o vidro traseiro. Tudo isso em menos de dois minutos. Ufa!
Além de todos esses processos, as operadoras situadas no posto 3, onde fiquei, precisam lidar ainda com uma plataforma que se desloca para a esquerda e direita, acima e abaixo para que consigam estar no local correto ao fixar cada peça. 
E não é que o pessoal da Nissan conseguiu descobrir o destino do carro com o rack que montei com as minhas próprias mãos? Era um modelo de exportação que vai para a Argentina. Alô, hermanitos, se você for um futuro comprador de um Kicks branco, saiba que seu rack foi colocado com muito carinho - e espero que ele não caia pelo caminho. Já pensou se rola um recall de rack de teto?
Nissan Dia da Mulher (Foto: Divulgação)Gabarito ajuda a fixar o logo no local e posição exatos. (foto: divulgação).A cereja do bolo foi colocar o logotipo da Nissan e o nome na traseira de um dos carros. Imaginei que a peça ficaria torta pela minha falta de experiência, mas um gabarito ajuda a colar cada parte em seu devido lugar.
Na produção, o foco tem de ser total, pois cada carro tem cerca de 3.600 partes. Um Kicks básico, por exemplo, tem 158 conexões elétricas. Em Resende são produzidos 258 veículos por dia, o que significa que a cada 1 minuto e 50 segundos um carro passa pela linha de montagem.
É uma rotina dura, passar oito horas em pé repetindo os mesmo movimentos para receber salários que variam de R$ 1.500 a R$ 2 mil. O primeiro turno começa às 5h40 e segue até 15h28, enquanto o segundo inicia às 15h18 e vai até 0h43. São 145 mulheres na operação da fábrica - conheça abaixo as histórias inspiradoras de três delas.
Nissan Dia da Mulher (Foto: Divulgação)Ketheri dorme  só quatro horas por dia para conciliar trabalho e estudos. (foto: divulgação).
Ketheri Paloma de Jesus Bruno, 29 anos, trabalha há 2 anos e 8 meses na Nissan.
"Trabalhei em comércio por 10 anos, onde conheci meu marido, antes de vir para cá. Hoje ele também trabalha aqui, na manutenção. Tenho muitos cursos industriais que fiz no Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), de tornearia mecânica, PCP [planejamento e controle da produção], empilhadeira, solda TIG, MIG/MAG. Entrei na Nissan trabalhando no posto 1 e depois vim para o posto 3, porque na linha precisa haver um revezamento pra não ficar muito cansativo para o operador. Ali é bem confortável porque a gente trabalha em pé, já no posto 1 a gente trabalha mais abaixado pra colocar o chicote. Aqui não tem preconceito, não. O pessoal é tranquilo, os meninos são muito respeitosos, não tem nenhuma gracinha de homem para mulher. Essa questão de achar que um é melhor que o outro, ou que tem prioridade não existe, aqui é igual pra todo mundo. Meu objetivo daqui pra frente é só crescer. Por isso que eu estudo, corro atrás. Aqui tem muita oportunidade, por isso comecei a fazer faculdade de logística. Nunca pensei em fazer faculdade antes, mas como aqui abria muita vaga, principalmente na área da logística, pensei em tentar. Saio daqui e vou pra faculdade. Só encontro o marido nos finais de semana agora. Acordo 3h30 porque o ônibus passa às 4h20, sou de Volta Redonda (RJ), então levo uma hora no deslocamento. Não dá pra fazer muita coisa quando eu chego em casa, já fica em cima do horário da faculdade. Vou todos os dias de uniforme para a aula, o pessoal já até se acostumou. Durmo cerca de quatro horas por dia, porque chego em casa 22h30. Tomo banho, como, aí durmo lá pelas 23h, 23h30."
Nissan Dia da Mulher (Foto: Divulgação)Lilian de Fátima Faustino, 32 anos, trabalha há 1 ano e seis meses na Nissan.
"Não conhecia ninguém do setor automotivo antes de entrar na Nissan. Minha formação é ensino médio técnico, mas eu era catadora de reciclagem. Decidi tentar uma posição aqui porque sou de Cruzeiro (SP) e lá falta oportunidade, só tem uma fábrica de peças. Lá não estavam pegando mais funcionários, então pensei: pra onde vou correr? Crise feia. Muita gente estava indo para o comércio, mas não tem muita oportunidade. Porque infelizmente é muita estética, quem sabe falar, se comportar, e eu sou bem brutona, né? Gosto do serviço mais pesado. Aí um colega mandou o currículo para cá e falou pra eu fazer a inscrição. Depois de um tempo me retornaram e marcaram a entrevista. Foi bem difícil a seleção, não pelo trabalho em si, mas porque eu tinha de vir para Resende e não tinha dinheiro. Então minha mãe trabalhava durante o dia todo catando reciclagem e fazendo capina de quintal, e eu pegava reciclagem à noite para ter dinheiro para vir. Foi bem sofrido. Cruzeiro fica a 1h20 daqui, ainda moro lá. Pego ônibus às 3h30. Acordo 2h40, mais ou menos. Quando fico com preguiça de tomar banho dá pra acordar umas 3h. Eu até gostaria de ter filhos, mas mais pra frente. Acho que daria para conciliar sim, minha mãe é supercarinhosa, minha irmã tem três filhos e trabalha fora, então é ela quem cuida. Constantemente tenho que provar meu valor por ser mulher. Aqui teve aquela questão: ela não vai aguentar, não damos uma semana pra ela. Chegou a ter aposta de que eu não conseguiria. Pensei: eu vou provar pra esses caras que não sou assim. Mas no fundo eu não precisava nem provar porque eu sabia do que eu era capaz. Acho que quando a gente tem uma necessidade e você pensa ou é isso ou é isso, o céu é o limite. Qualquer desafio que me dão eu encaro mesmo. O principal desafio pra mim quando entrei aqui foi a questão das máquinas. Você vem de um lugar onde só tem mato, só vê verde, entra aqui e é tudo robotizado. Fiquei muito assustada no começo, chegou a me dar crise de ansiedade, não dormia. Pensei que não ia conseguir seguir essa rotina, mas focava muito na minha mãe, meu foco é nela. Sempre levo isso comigo: quando dá aquele desânimo, penso que antigamente eu tinha o almoço mas não sabia se teria o jantar. Agora posso ficar tranquila, sei que tenho pelo menos um arrozinho e um feijãozinho me esperando em casa, que minha mãe pode contar comigo."
Nissan Dia da Mulher (Foto: Divulgação)Laizi Fernanda de Souza, 33 anos, trabalha há 1 ano e 10 meses na Nissan.
PS - A Laizi foi minha parceira na linha de produção e me ajudou com todos os processos, sou muito grata a ela
"Minha rotina é corridíssima. Tenho um filho que vai fazer seis anos, mas não vivo com o pai dele. Saio de casa às 4h30 e ele acorda todos os dias pra me dar beijo e abraço antes de sair. A babá chega às 4h20 e fica responsável por ele até a hora da escola. Moro em Quatis, a 1h10 da fábrica. Chego em casa às 16h40 e às vezes dá tempo de tomar um banho ou adiantar algum serviço, então busco meu filho na escola às 17h30. Ele já me pediu várias vezes para me ver trabalhando, mas até agora não tive oportunidade de trazê-lo aqui. Já tinha experiência na área porque trabalhei cinco anos na Volkswagen Caminhões. No início o maior estranhamento é que lá ficávamos em um setor só de mulheres, e aqui eu era a única mulher em uma área só de homens. Mas o entrosamento é respeitoso, não há diferenças. Conheci meu atual namorado aqui na equipe. Começou uma amizade, da amizade, um namoro. Em março do ano passado nós ficamos pela primeira vez, então gente comemora um ano na segunda-feira (9 de março). Aceitei ter uma nova pessoa na minha vida depois de dez anos. Não ouço nada. A minha família tem uma doença hereditária no qual a cóclea fica mais porosa. Comecei perder a audição aos 16 anos, mas não tinha uma noção médica. Quando eu fui procurar um médico para fazer o tratamento adequado, já era tarde demais. Uso aparelho pra estimular o nervo, porque eu não posso perder o estímulo, mas não me acrescenta em nada. Minha família tem sete pessoas com essa doença, que afeta principalmente as mulheres. Então não tem reversão, a única possibilidade é a cirurgia, um implante coclear. Nunca tive coragem, fico travada. O medo é maior. Mas eu já me aceitei, vai fazer 14 anos que faço tratamento em um centro especializado só em deficientes auditivos. O deficiente tem que se aceitar, independentemente da discriminação, do preconceito, isso gera muita mágoa. Não conheço a voz de ninguém, nem do meu filho. Mas eu sei perfeitamente fazer leitura labial. Se tiver uma articulação boa, consigo responder mesmo de longe. Eu ouço com os olhos."

Fonte: Autoesporte.Por: Thais Villaça.Data: 08/03/2020 11h19.







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